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relações modernas e sua liquidez...***

oies, bom dia!

que seja doce...

relações modernas e sua liquidez - escrito por Luiza Maira
compartilho essa crônica que retrata bem os romances que terminam antes de começar,
uma linda reflexão sobre amar, afinal, tudo o queremos é amar e ser o amor de alguém, não é?

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"Anoiteceu e eu estava distraída demais por qualquer edição de texto ou procrastinação latente. Não percebi que ele partia. Escrevi, sorri, chorei e não percebi sua ausência, como de costume.
 Voltei pra realidade, visitei as redes sociais e ri da atual e ridícula situação política do país traduzida (sabiamente!) em memes.  E lá estava ele, online, sem falar comigo. Deixei o orgulho de lado e o chamei pelo apelido carinhoso que nos demos. Demorou a responder e respondeu frio, como de costume.  O pouco de dignidade que me restava me dizia pra encerrar a conversa ali, já que visivelmente ele não estava interessado em falar. Nem parecia o mesmo cara de alguns dias atrás que fazia de tudo pra me ver, nem se fosse por 15 minutos pra um café e um cigarro. Mais uma vez deixei o orgulho de lado, reduzindo ainda mais a minha dignidade, tentando, sem sucesso, fazê-lo sentir alguma coisa, qualquer lembrança, alguma migalha de demonstração de afeto. Silêncio. Nenhum áudio, nenhuma mensagem. Eu o havia perdido, isso já estava mais do que claro.
 O que não ficou claro foi o momento em que eu o deixei partir. Eu sempre fui tão distraída... Alguns meses de paixão tórrida reduzidos a mensagens não respondidas, perdidas em algum paraíso cibernético. Não foi só um sexo incrível, uma amizade divertida, ou a melhor companhia pra fazer um som numa noite chuvosa. Foi muito mais e ele sabe. Assim como eu sei. Hoje em dia, com tanta facilidade para se relacionar, conhecer cada vez mais pessoas e com tantos aplicativos exercendo o papel de ponte entre elas, os amores têm sido mais breves, líquidos, descartáveis.  
Nos interessamos tanto quanto nos entediamos com as histórias do outro, as vivências e todo o universo que nele habita. Estamos cada vez mais cheios de tantas informações vazias. Tomei um chá de camomila seguido de uma dose generosa de vodka e comecei a ler o livro que eu havia comprado pra dar-lhe de presente de aniversário. É um bom livro realmente, como ele costumava elogiar, dizendo o quanto era difícil encontrar um exemplar dele. Eu encontrei e ele nem mesmo sabe, já que decidiu se ausentar dos meus dias.
 Ah, a liquidez das relações modernas me intriga ao mesmo tempo que me cega.
 Quantas vezes fui eu quem se afastou de repente, por preguiça ou tédio?  Amanheceu. Recomecei minha rotina: escovar os dentes, banho pra despertar, um café amargo e um cigarro. Respondi as mensagens de "bom dia" de alguns "contatinhos" sem a frieza que antes me moldava para os parâmetros de decepções anteriores. Afinal, são só pessoas. Talvez um pouco perdidas, mas ainda sim, só pessoas e seus universos particulares. 
Continuo ainda incansável na fuga da liquidez que me esvazia. Constantemente. Logo eu que me permito transbordar sem cerimônia. Não me envergonho de ser inteira nesse mundo em pedaços e cheio de metades ocupadas demais, similares demais para se encontrar. Consequência da futilidade de criar e desfazer laços instantaneamente.
 O café? Inevitavelmente esfriou. Assim como a paixão que antes fervia. "


beijos e meu carinho, bell

https://www.youtube.com/watch?v=kZAuV0UcxVM

"Quando não tiver mais nada, nem chão, nem escada, escudo ou espada, o seu coração acordará. Quando estiver com tudo, lã, cetim, veludo, espada e escudo,
sua consciência adormecerá e acordará no mesmo lugar, do ar até o arterial, no mesmo lar, no mesmo quintal da alma ao corpo material."